Como falar da atual situação política italiana em poucas palavras sem ser muito superficial? Essa é a pergunta que me atormenta. Porque a política italiana olhada de fora da Itália parece um caos. Ninguém consegue entender algumas dinâmicas nem mesmo os italianos. Esse fator da incompreensibilidade fez com que muitos eleitores tradicionalmente de direita ou de esquerda mudassem rumo. Um momento, tento explicar algumas coisas básicas.

1)Itália é um pais com um sistema parlamentar de “bicamarismo imperfeito”, isso quer dizer: na câmara dos deputados quem tem maioria ganha um prêmio de mais cadeiras para garantir uma maioria sólida; e ao senado o número de senadores é baseado pela número de votos de cada região.

2)A Itália depois da primeira República foi pensada em um sistema político bipolar a Estados Unidos (esquerda PD e direita PDL), atualmente Luigi Bersani com a Esquerda e Silvio Berlusconi com a Direita.

3)A primeira república acabou com um grande escândalo político de corrupção que envolvia quase todos os partidos da época, foi naquele cenário que surgiu Berlusconi como o salvador. Isso em 1994. Daquela época até agora é ele o grande personagem da vida política italiana.

4) Berlusconi: 18 anos no poder; proprietário do maior canal de TV privado; Uns dos maiores acionistas do Banco Unicredit e grupo Fininvest; proprietário de jornais; condomínios; etc..  Uns dos 10 mais ricos da Itália. Nesses 18 anos no poder, criou várias leis para beneficio próprio – pessoal e para suas empresas – tem uma lista de processos que vai desde associação mafiosa a prostituição infantil. Não nominarei o nome do partido do “B” porque as palavras usadas mantém seus significados.

5)Bersani é o líder da esquerda e sob a sua direção, o Partido Democrático, não conseguiu derrubar Berlusconi mesmo este último sendo o “cavalo de batalha” do seu partido. O PD não foi um grande partido de oposição mesmo tendo um discurso forte contra o “B” (Berlusconi é tipo Voldemort ou “aquele que não pode ser nomeado”, só o seu nome já da azar..rs). Mesmo tendo esse discurso algumas vezes se favoreceu com as lei pessoais de “B” para livrar também alguns dos seus em casos de corrupção.

6)Fator Grillo, Movimento 5 Stelle: Beppe Grillo era um comediante da tv italiana que um dia resolveu junto com seu amigo Casaleggio participar ativamente da vida política italiana. Através de um blog eles começaram a expor suas ideias e incentivar as pessoas a participar da vida política, criou uma atmosfera antissistema que conseguiu traduzir o sentimento dos Italianos. Basta de políticos corruptos, bastam gastos excessivos do Estado, bastam privilégios, bastam políticos na TV contando mentiras para o povo! Grillo fez uma campanha política em cima de um trailer e rodou toda Itália fazendo comícios dando soluções para os problemas do país, projetos ecossustentaveis, propôs s a “decrescita feliz”, produção alimentar a quilômetro zero e várias outras coisas.

Uns dos fatores de incompreensibilidade dos italianos em relação aos seus políticos é: como essas pessoas podem cometer crimes e ficarem livres? Como é possível mudar de partido quando querem? A forma que a política italiana usa para se comunicar com o povo é através de programas televisivos, tipo mesa redonda, debatem o tempo todo sem nunca chegar a uma solução.

Nessas eleições de 2013,  Berlusconi era contado como morto politicamente e Bersani acreditava que levaria fácil essas eleições. Porém surgiu o caso do Banco Monte dei Paschi di Siena que envolvia o Partido Democrático na gestão corrupta do Banco. Berlusconi armou seu exército mediático e conseguiu voltar à vida política. Porém , com o povo  cansado do sujo falando do mal-lavado, aconteceu o inesperado. Todas as pesquisas pré eleitorais davam que o PD seria o vencedor, e PDL o segundo. Realmente ao PD ficou com a maioria absoluta na câmara do Deputados com o prêmio da maioria. No senado também tem a maioria, o PDL ficou em segundo e o inesperado aconteceu: Movimento 5 Stelle ficou em terceiro porém com uma grande quantidade de senadores o que impede a formação de um governo. Porque se precisa de maioria nas duas casas para formar o governo. O PD não quer fazer uma aliança com PDL, tentou aliar-se com o M5S que não aceita esta aliança.

A situação é de um triângulo amoroso em que nenhuma das pontas aceita quem a quer bem. Um outro agravante é que estamos no último ano do presidente da república , ele não pode dissolver as câmaras e convocar novas eleições. Ixiiii…. teria que explicar o problema da lei eleitoral italiana… É melhor deixar para lá. Esse é mais ou menos o cenário atual da política italiana. O que me lembra muito a política brasileira. Enquanto o país esta ruindo,  os políticos estão pensando nas coisas particulares deles. Uma política autorreferencial e um povo servil, Itália e Brasil,  dois países muitos parecidos.

                                                                                        Tiago Ignacio Branchini